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sábado, 24 de março de 2012

O AMOR TERAPÊUTICO


O AMOR TERAPÊUTICO

"O Amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo da sua personalidade.
Ninguém consegue ter consciência plena da essência última de outro ser humano sem amá-lo.
Por seu amor a pessoa se torna capaz de ver os traços característicos e as feições essenciais do outro e mais ainda, ela vê o que está potencialmente contido nele, aquilo que ainda não está,
mas deveria ser realizado […] conscientizando-a do que pode ser e o que pode vir a ser,
aquele que ama faz com que essas potencialidades venham a se realizar".

(Victor Frankl)

Vamos fazer uma reflexão sobre a manifestação amorosa do terapeuta pelo cliente, a que é denominada "amor terapêutico".

Nesse tipo de relação o amor pode acontecer, e se manifesta com características diferenciadas. Diferente do amor por si mesmo, amor fraterno, amor materno, amor erótico e amor romântico ou paixão.

O amor terapêutico envolve aceitar o cliente tal como ele é, perceber as suas necessidades, sentimentos, crenças, valores, conflitos e dificuldades entre outras coisas.

Na relação terapêutica amorosa, o terapeuta se permite discordar do cliente, frustrar manipulações e jogos de controle, estabelecer limites entre terapeuta e cliente, oferecer suporte para que o cliente experimente as próprias limitações e dificuldades, responsabilizando-se por elas.

O terapeuta que ama seu cliente precisa ser muitas vezes firme e forte para evitar manipulações e ajuda-lo a assumir responsabilidades. Isso não quer dizer que ele deva ser rude, agressivo ou frio, o que não seria uma atitude amorosa. A essência do Amor é o relacionamento.

A relação terapêutica possui conhecidas características que a diferenciam das demais relações humanas, extensamente estudadas nas teorias da prática psicoterápica. O amor terapêutico é mais um dos aspectos que distinguem essa forma de encontro de tantas outras.

O amor terapêutico pode se manifestar não só na relação psicoterapeuta-cliente; um médico, um fisioterapeuta, um fonoaudiólogo, um terapeuta ocupacional também podem manifestar-se amorosos na relação com seus pacientes; certamente, suas atitudes amorosas facilitarão o processo de cura, de recuperação ou de reabilitação dos mesmos, uma vez que a saúde é muito mais do que a ausência de doenças, mas um estado de integração do indivíduo.

É através do estado de ser amoroso que o terapeuta cria condições para que o cliente possa ouvir, ver compreender, aceitar e amar a si mesmo. O amor só pode ser recebido pelo cliente se ele próprio estiver em estado amoroso; o amor do terapeuta cria a oportunidade para que o potencial de amor do cliente possa ser ativado por ele mesmo.

As atitudes amorosas do terapeuta favorecem o contato do cliente com o "desamor" próprio, uma vez que através da relação terapêutica ele poderá perceber que, apesar de ser aceito, valorizado, respeitado e amado, ainda assim ele rejeita, desvaloriza, desrespeita e deixa de amar a si mesmo.

O cliente que não ama a si mesmo envolve-se em relações não amorosas, pois nesse caso relacionar-se com o outro amoroso significa perceber-se e deparar-se com as próprias dificuldades. O indivíduo amoroso não estabelece jogos manipulativos, nem se cristaliza no desempenho de papéis rígidos, ou absorve projeções advindas do parceiro. Relacionar-se com uma pessoa verdadeiramente amorosa é como estar diante de um espelho e ver refletida a própria imagem, seja ela bela ou defeituosa.

E este é um dos aspectos essenciais da relação terapêutica: o terapeuta amoroso confirma as necessidades do cliente e o aceita tal como é, mas sem contracontrolar ou manipular, sem seduzir sem deixar-se seduzir, sem incorporar projeções ou buscar onipotentemente satisfazer o cliente e "salvá-lo" das próprias dificuldades. Ele se oferece como instrumento para que o cliente experimente com segurança todo sofrimento auto-imposto, e a partir da constatação profunda de seus modos de existir, possa confirmar-se e compreender-se para ser capaz de amar a si mesmo.

O terapeuta amoroso não só funciona como "espelho" dos aspectos conflitantes ou destrutivos do cliente. Obviamente, reflete suas capacidades e potencialidades, como também com a própria beleza, seus aspectos construtivos, belos e únicos, sua singularidade. O cliente que não se vê, não deixa apenas de deparar-se com os medos e as dificuldades, como também com a própria beleza, seus aspectos positivos e criativos, suas capacidades e habilidades, enfim, com a própria individualidade.

A atitude amorosa do terapeuta permite que o cliente passe a questionar o "mito do amor condicional", ou seja, as crenças, os valores e as atitudes, nos relacionamentos afetivos, baseadas na crença maior de que o amor só pode ser vivido sob certas condições. Possibilita também que o cliente experimente uma nova maneira de relacionar-se, na qual a aceitação, o respeito, a consideração, os limites, a responsabilidade, o compartilhar e o amor estão presentes.

Assim, ao oferecer um clima de segurança, o terapeuta possibilita ao cliente experimentar a vulnerabilidade, as necessidades, os sentimentos próprios e também, o amor. O cliente pode ser aceito, respeitado, valorizado e amado e, progressivamente, recuperar a aceitação de si mesmo, desenvolvendo sua capacidade para amar.

Fontes: